Estava dentro do carro com duas pessoas que nunca tinha visto na minha vida, morta de sono dormi apesar das lindas paisagens a minha volta. Acordei e essa foi a pior sensação, saber que não era o meu carro, não era meus pais e que eu só veria eles daqui a um ano, a sensação mais estranha do mundo olhar pros lados saber que é de manha, mas minha cabeça e meu coração estavam com o fuso-horario atrasado, era a noite pra mim ainda. O frio desconhecido me congelava e eu nao parava de me perguntar ''o que eu estou fazendo aqui?'' uma agonia enorme e vendo tanta coisa linda e queria que todos pudessem ver também, aquele momento meu unico desejo era que meus olhos filmassem tudo. Fui pra casa dos pais da minha primeira mãe em outra cidade, tão adoraveis que me lembraram meus avós e eu nao sabia se era bom ou ruim, minha infancia veio a tona e comecei a lembrar de quando morava com eles e como eu os amo, queria que fosse o meu avô ali, minha avó. Dali fui pro zoologico conhecer os famosos cangurus, eles vinham na minha mão comer e tão amaveis quanto os meus cachorros, e dai eu lembrei que talvez eu nunca mais posso ver um deles. A ficha estava caindo aos poucos.
Cheguei enfim em uma casa onde eu pudesse arrumar minhas coisas e assim que abri a mala encontrei alguns livros que eu nao lembrava de ter trago, umas cartas dos meus pais e uma foto, aquilo foi o fim pra mim, li chorando e tentando disfarçar. Chega parecer ironico como ja podia sentir saudade a pouco tempo longe de casa, mas era só a prova que eu estava em um mundo diferente e sozinha.
O fuso-horario do meu coração continuou atrasado por uma semana, acordava de madrugada querendo conversar com todos. Uma semana de agonia, deslocada e sem chão. Primeiro dia de aula foi otimo para um primeiro dia, as pessoas muito legais e curiosas com estrangeiro, eu pensave: sou gringa. Mas depois começou a agonia de nao parar de me questionar, quem sou eu aqui? É um recomeço de vida, de sonhos e principalmente de mim mesma, e foi isso que eu disse quando me entrevistaram pro jornal da cidade, não é por querer mudar quem sou, mas é isso que acontece por não ser aquele mundo de antes, por nao ser os amigos e as situações de antes.
Uma brasileira na cidade além de mim parecia uma péssima ideia antes de vim, mas foi a luz no fim do túnel pra mim, e foi só depois que a conheci que realmente me senti um pouco em casa. Dizem por ai que brasileiros quando se encontram em outro país ficam amigos na mesma hora, e não foi diferente. Amizade a primeira vista, eu tive uma!
Exatamente uma semana depois fui finalmente pra minha primeira familia, Loiuse Brennan é o nome da minha primeira e nova mãe anfitriã. Não sei como é a relação de mãe e filha aqui, mas estou fazendo de tudo pra ser como a minha mãe de verdade, sem mentiras e realmente amigas. Essa é a minha casa agora e a minha realidade.
Com o passar dos dias eu comecei a pensar o quanto é boa minha vida no Brasil, o quanto eu amo o meu país apesar de estar amando a Austrália. Isso é fantastico, todos pensam do mesmo jeito e eu amo saber que não estou sozinha nessa grande aventura chamada Intercambio. Comecei a perceber o quanto eu sou o Brasil, e nisso sentir a obrigação de dar o melhor de mim pra representar o meu país. Eu quero mostrar tudo pra eles aqui também o que eu tenho, o que eu vi, o que aprendi no Brasil, tentar explicar como me tornei quem eu sou e começar a achar meu lugarzinho aqui, começar a me colocar no meu lugar, ser transparente como sempre e sincera como de costume. Quero ter oportunidades de me mostrar, de deixar que me conheçam de verdade, sinto saudade as vezes de ter aquela liberdade em relação a tudo que eu tenho em casa, em sete lagoas, com as pessoas... e as vezes aqui eu não posso ter.
Mas agora eu só estou pensando que esse vai ser o melhor ano da minha vida e que não quero perder tempo com o que não vale a pena, saudade sempre, mas computador por incrivel que pareça tem me ajudado muito, ajudado inclusive a ficar mais calma e com a cabeça aqui ao contrario de muitos intercambistas internet me faz bem de verdade, deixa meu coração aliviado.
O tempo vai passar rapido, esse foi o maior passo da minha vida, a coisa mais estranha e assustadora que me aconteceu, e a MELHOR.
A questão é viver um dia de cada vez e não ter medo de chorar.